quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Urubu

O urubu pousou na vida dele de uma maneira estranha. Foi ao abrir a persiana do escritório. Ele estava lá, do outro lado da rua, como um rei negro no topo do sobrado do vizinho. Não havia mais nenhum nem ali nem sobrevoando. De vez em quando batia uma brisa e as asas dele se abriam - e ele ficava mais majestoso. À distância parecia jovem. Estaria perdido? Nunca ele tinha visto urubu naquele pedaço da cidade onde filé mignon é comum no prato dos moradores. Claro que pensou na carniça. Mas, onde estaria? Na vizinhança um dia morou alguém que foi parar nas páginas policiais por roubo do dinheiro público, mas isso é outra história. O urubu ficou lá o dia inteiro, lindo, silhueta negra contra o céu azul ou algumas nuvens que ali passavam. Ele ficou observando. Pensou em fotografar mas... Pra que? Há certas cenas, momentos, visões, que é melhor guardar para sempre. O urubu, pensou o observador, deveria ser a ave símbolo do Brasil. Para o país ficar sempre limpo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário