terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Sistema alucinógeno
O menino estava deitado no chão da sala. Apagado. Tinha derrubado uma xícara que estava ao lado. O café com leite fez uma mancha que, nos filmes policiais, sempre é um lago de sangue escuro. Ele foi ali a pedido da mãe, para tentar conversar com o rapaz. O guri tomava drogas alucinógenas desde os 13 anos. Aos 16, saiu da casinha, como se diz. Ele esperou o corpo acordar e viu que o cabelo estava cortado no estilo moicano. Brincou que invejava, mas não podia fazer aquilo pois a parte que era para ficar espetada já tinha ido embora há muitos anos. O menino era dócil, mas falava com uma energia que o visitante temia ver uma baba começar a escorrer e não parar mais. Foram para o quarto do garoto que amava LSD e cogumelos. A mãe tinha arrumado a bagunça. O menino usava o "tá ligado" para cada palavra de uma frase. Tinha abandonado a escola, procurava algo nas "viagens", disse. Ouviu o visitante revelar que nunca tinha tomado droga alucinógena porque morria de medo de não voltar. O guri não entendeu e contou que fazia aquilo para contestar o sistema. Ele ainda tentou uma última cartada dizendo que, depois que cortou todos os embalos, tinha ficado muito mais louco - só tomando água. O moicano insistiu na luta contra o sistema. O louco do H2O se emputeceu e vociferou que o grande pilar do sistema era a família - então perguntou para o guri porque ele não se mandava da casa, recusando ser sustentado pela mãe que lhe dava café com leite e bolachinha recheada quando voltava das viagens. O moicano se fechou, virou as costas, deitou na cama, se enfiou embaixo de um cobertor e cobriu a cabeça.
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