segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Pátria mamada
Pátria mamada que me pariu! Como posso viver sóbrio nessa terra manguaçada, perdida, desvirtuada, estuprada, estapeada, esfaqueada, virada pelo avesso, cuspida, pisada, saqueada? Nasci no fundo de um poço de desejos, como disse um poeta, mas ao levar o tapa na bunda arregalei os olhos e comecei a ver em que inferno tinha me metido. Quis voltar para o útero, e nem os outros úteros que frequentei aliviaram a minha dor de ver tanta pobreza na riqueza jeca e tanta miséria na pobreza ignorante. Pátria mamada que me pariu! O que eu poderia fazer se não acompanhar o seu porre constante, burro, achincalhado, esculachado, escarrado, escancarado? Bebi álcool puro aos oito anos e me senti inserido no contexto. Foi como incendiar minhas veias, inchar o coração e começar a apodrecer o fígado para viver no universo paralelo que é sua realidade. Agora estou prestes a ser enterrado nas suas entranhas, minha pátria mamada - e peço desculpas pelo que não fiz, porque você não conseguiria ver, nem aprovar, nem nada.
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