terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Gengivão

Ao abrir a boca e mostrar que ali não havia dentes, só gengivas, a plateia ficou atônita. Sempre acontece isso. Sobrevivo de palestras, ganho muito dinheiro, mas tenho medo de dentista e não quero usar perereca. Meu tema principal é saúde - e o paradoxo é que me faz famoso. Meu apelido é Gengivão. Não ligo. Mostro logo porque estou ali e, depois do primeiro impacto, vou ganhando tudo com a minha lábia. Sou mestre e, no fim, muita gente me aplaude e alguns, demonstrando intimidade, perguntam como consigo beijar as mulheres. Não respondo. O mistério faz parte do sucesso. Perdi os dentes porque me confundiram com um estuprador. Primeiro foi uma pancada com barra de ferro. Depois arrancaram o resto com a ponta de uma faca enferrujada. Eu não tinha nada a ver com aquilo. O anormal foi preso tempos depois e eu fiquei com a boca de molho durante um bom tempo, ou seja, tomando café de canudinho. Foi aí que tive a ideia das palestras. Não me perguntem como. Veio. E comecei a falar do quanto é fundamental tratar da saúde, a começar pela bucal, como dizem os dentistas. Sinto falta dos meus dentes, sim. Olho as fotos antigas e, às vezes, me vem à lembrança o quanto eles eram fortes para destrinchar uma picanha ou abrir garrafas. Mas isso é outra história. Estou pensando em escrever um livro sobre minha experiência, mas sempre adio a empreitada porque começo a rir assim que sento na frente do computador. O problema é que todo vez que acontece isso eu começo a babar.

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