quinta-feira, 16 de julho de 2015
Duas mães
O psiquiatra perguntou se ele lembrava de alguma coisa antes dos três anos de idade. Só vendo as fotos, disse o paciente, com 35 anos de divã. O doutor queria saber como a mãe o tratava naquele início de vida. Ele só lembrou da história do leite condensado que tomava no lugar do leite materno - e brincava que tinha ficado um docinho para enfrentar a vida. Não tinha mais como perguntar para quem o pariu. Lembrou então que uma pessoa da família poderia informa alguma coisa. Era a irmã da mãe, que morava no mesmo terreno, mas na casa da frente. Fez o telefonema interurbano. Ouviu uma história linda. As duas eram costureiras, mas uma passava o filho para a outra porque era mais devagar, cautelosa com as encomendas. A tia contou que impulsionava a máquina com o pé direito enquanto a perna esquerda ficava de lado para sustentar e proteger a criança. Ele cresceu a chamando de mãe. Um dia chegou chorando desesperadamente naquela casa. Contou que alguém tinha-lhe dito que a tia não era mãe. Era - e só ele e ela sabiam e sentiam isso.
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