segunda-feira, 27 de julho de 2015

O filme da morte

Planejei minha morte há muito tempo. Morte para o cinema. O roteiro veio no dia em que me disseram que tenho fogo no rabo. Minha mãe falava diferente. Ela era mais direta e dizia fogo no cu - por isso me sinto liberado para dizer qualquer palavrão, em qualquer lugar e, se for o caso, para qualquer pessoa que ultrapasse a linha imaginária riscada no chão. Misturei Hitchcok com De Palma, dei um toque de Fellini no script e fiquei com ele guardado aqui, na cachola, até a hora - não da minha morte, mas da filmagem. Sei que o cenário será todo branco, com flores, caixão e o terno. Sei que no close do rosto, sem algodão nas narinas, vou abrir os olhos e, depois que a câmera se afastar, pegarei o celular no bolso do paletó e discarei para alguém. Direi então "agora baixei o fogo" - e depois de guardado o aparelho, continuarei como antes de abrir os olhos, mortinho da silva. The end.

Nenhum comentário:

Postar um comentário