quinta-feira, 23 de julho de 2015
Madrugada São João
A madrugada da avenida São João não é para amadores. A esquina com a Ipiranga, que o baiano rico disfarçado de pobrezinho imortalizou na música para os basbaques, ainda não tinha sido tomada pelo restos de gente do crack. Os bares com quinhentos metros de fundo ficavam abertos até amanhecer - e a lamentar somente o fim da boate Oasis e os salões de bilhar onde reinava o gênio Carne Frita. Mas havia a aura, nebulosa, cores esmaecidas, mulheres sambadas da vida, aprendizes de malandros, malandros em fim de linha, uma cerveja por favor. Às três da madruga, depois do trabalho pesado, o primeiro gole era como voltar à terra, apagar a fadiga, olhar em volta e pensar no que fazer até o primeiro ônibus chegar junto com o raiar do dia. O subúrbio dormia à espera. E um sebo com livros e revistas antigas também, ali na porta de aço ao lado. Foi assim que ele viu a mulher dos sonhos na capa de O Cruzeiro. O que mais chamou atenção foi a cintura de pilão. Pagou o preço. Caminhou até o Vale do Anhangabaú, desceu a ladeira Porto Geral e ficou encostado no poste do ponto abraçado e com ela no peito. Durante todo o trajeto até a vila olhou-a apaixonado. Abriu a porta da casinha de fundos e foi dormir de roupa de tudo no colchão de palha. Estava feliz por ter encontrado. Guardou-a para sempre. Marta Rocha.
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