terça-feira, 14 de julho de 2015
Leila na madrugada
Ela olhou do alto da banca de revista e soltou um palavrão. Gamei! Comprei o jornal onde aparecia com uma toalha enrolada na cabeça e um roupão cobrindo o corpão. Nunca mais nos separamos. Mesmo depois da explosão do avião em que estava junto com Agostinho dos Santos. Será que ele cantou só para ela, com aquela voz doce que entra e não sai mais da alma? Musa é musa – e por isso nunca tive inveja dos seus incontáveis homens. Porque Leila Diniz era todas as mulheres do mundo. Ela que foi professora de profissão e da escola da vida. Quando abri os olhos no meio da madrugada e apertei o botão para a tela acender, estava lá um filme com o nome dela – não com ela. Quase chorei de raiva, porque não se faz um lixo como aquele, supostamente para contar a história dela, onde, para começar, o corpo da atriz protagonista era uma tábua de passar roupa – e os coadjuvantes imbecis com roupas imbecis e falando imbecilidades. Desliguei, mas antes vi o final que era mais patético e retumbante do que o resto. Então, no escuro, ela apareceu com aquele sorriso, a voz acariciante e os olhos cujo brilho dizia: “Eles não sabem o que fazem”.
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