quarta-feira, 8 de julho de 2015
Na batida do pandeiro
A prima batia no pandeiro, o pai dela girava o afoxé, um amigo dedilhava o violão de doze cordas e o líder empunhava o cavaquinho com um sorriso que iluminava o quintal. Chorinho. Era assim, todo sábado, no final da tarde. Eles se reuniam ali e descia tudo lá não se sabe de onde, porque ali Valdir Azevedo e Jacob do Bandolim não eram inimigos. Vai ver que era a presença de São Pixinguinha. Vai ver. O menino ficava encostado numa parede, dedo na boca, e lembrava de algumas músicas que escutava na rádio-vitrola de olho mágico. Ao vivo era outra coisa. Ele sentia o som até no umbigo estufado, principalmente o arrancado do pandeiro. Foi o primeiro instrumento que gostou. Queria saber tocar. Compraram um pequeno para ele. Era uma bateção só. Um dia, num casamento bem longe dali, estava lá o conjunto, e ele queria tocar junto - com o seu pandeiro. Tanto fez que foram buscar em casa. Ele acha que tocou junto. Ninguém reclamou. Depois disso guardou-o e ficou o resto da vida ouvindo o som que tirou do couro naquela noite.
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