terça-feira, 21 de julho de 2015
Um caco de vidro
O caco de vidro escondido no terreno baldio. Fundo de garrafa se elevando em picos sujos pelo tempo. Ali, escondido, acompanhando o silencioso crescimento do mato em volta. Armadilha à espera de um pé descalço, com brancura ingênua como a brincadeira que leva aquele menino a correr olhando para trás no pique-esconde. O caco de vidro é o grito. Ele procura a veia, o osso, lacerando músculos, arrebentando a pele. Sangue regando a relva, manchas no céu, escuridão. Salvem o menino! O vidro, agora rubro, vai para o fundo de um quintal. Um martelo o estraçalha com raiva. Os pedaços jogados no lixo somem daquele pedaço de vila. O menino está salvo. Pé enfaixado e um sorriso nos lábios. Ganhou carinho e guaraná para tomar no bico Ali perto, numa casa de madeira, o chuveiro é aberto e alguém canta. Depois todos daquele universo desaparecem durante o sono. Os cacos de vidro continuam como sempre. Em silêncio.
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