quarta-feira, 1 de julho de 2015

No escuro

Perdeu o show da Tina Turner e a visão - tudo ao mesmo tempo agora. Tinha comprado ingresso, viajou mais de mil quilômetros, mas antes de ver a energia negra de pernas luminosas, e bem antes de ver o marido que a espancava depois de cheirar cordas de coca, antes ele foi visitar um amigo na casa do litoral. E foi aí que se perdeu. Talvez tenha sido a carga de adrenalina recebida num passeio de moto - e sem capacete, mas a verdade é que saiu da garupa e entrou numa garrafa de cachaça que o tirou do compasso do tempo. Depois derrubou outra e mais outra... quando acordou, sabe-se lá quanto tempo depois, não estava enxergando nada. Gritou que estava cego, mas ninguém o ouviu. Sozinho, não tinha noção do espaço onde estava. A canela bateu em algo e a dor foi lancinante. Foi tateando tudo e descobriu um quarto. Achou a porta e, ao girar a maçaneta, tomou um banho de estrelas no céu, ao mesmo tempo que sentia a brisa do mar. O coração disparou e a lembrança voltou, como a visão. Tina Turner, àquela altura, cantava Acid Queem num estádio de futebol muito distante. Ele sentou na areia da praia e chorou. De alegria e tristeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário