quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
Irmãos Metralhas
Conheci os Irmãos Metralha. Eles eram guardadores de carro perto do local onde eu trabalhava. Ficavam numa esquina de uma rua sem saída e se acomodavam embaixo de uma árvore frondosa. Ali puxavam um fuminho e, no fim da tarde, recolhiam a grana de quem estava a fim de uma "farinha" que eles pegavam com um tira numa praça do Centro. Quando chegava a encomenda, uma moçada se reunia numa casa abandonada que havia na mesma esquina para lançar o arpão na veia. Um dos Metralha era exímio no manejo da agulha. Foi o que morreu mais cedo, com uma saraivada de balas. O outro, encontrei anos mais tarde. Parecia um trapo humano. Não devia ter nem trinta anos, mas, contou, tinha Aids e não tratava. Continuava se arrastando atrás da droga e, quando estava um pouco melhor de saúde, puxava carros encomendados por uma quadrilha. Convidei-o para tomar um café ou suco. Entramos na lanchonete e quase não nos serviram por causa da aparência dele. O suco de laranja, contou, era algo que nem lembrava o gosto e quando tinha bebido pela última vez. Adorou. Tomou tudo num gole, depois limpou a boca com as costas da mão direita, deu tchau e foi embora. Nunca mais o vi. Deve ter ido se juntar ao irmão.
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