quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Meus mortos
Meus amigos mortos insistem em me visitar. Eu gosto. Não, não tem nada a ver com a palhaçada dos zumbis importados dos Estados Unidos que os colonizados incorporam e ficam esperando uma câmera de tv para se exibir. Meus mortos aparecem em pessoas que estão por aí - e que encontro nas ruas. Os traços dos rostos me lembram eles, meus queridos que partiram antes do tempo e com quem convivi, principalmente no trabalho. Não me assusto. Tenho até vontade de ir lá conversar com o desconhecido, mas acho que ele, sim, vai se apavorar. O contato do real com a lembrança para me recarrega a carga positiva que eles passaram quando estavam vivos. Eram do bem. Às vezes, horas depois, eu lembro do encontro e choro baixinho, escondido de tudo. Meus mortos são lindos e eles sabem que não adianta ficar procurando-os nas ruas. Eles aparecem quando tudo está na mais perfeita normalidade e quando minha alma está pronta para saudá-los do jeito que gostam - lembrando-os com saudade e para sempre.
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