quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
Trator de alma
O trator pilotado pelos filhos passou e abriu sulcos no terreno da alma. Sementes foram plantadas e eu não sei de que tipo. Há uma indiferença superficial. Ou não? As pontas que machucam me levam ao passado. Eu era assim com os meus. Paga-se o preço. Espera-se a redenção. Sementes de ódio só sobrevivem com sementes de amor. Somos sempre como nossos pais, apesar de, durante um tempo, odiar aquilo e jurar por tudo quanto é sagrado que não seríamos assim com os nossos filhos. Somos. Por isso o sofrimento é maior – não há como mudar. Há como esperar que brote o afeto que não demos, mas sabemos existir. Então nos tornamos filhos dos nossos filhos. E eles pais dos nossos pais. Reza-se para que a foice não corte o roteiro. Por isso aguentamos o arado a nos dilacerar.
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