Fui ao planetário, fiquei olhando para o teto e mostraram lá a aurora boreal. Explicaram o fenômeno, mas nem liguei. Fiquei encantado e com vontade de ver ao vivo, lá nos confins, onde a Terra faz a curva. Saí dali crente que conseguiria realizar o sonho de menino, 12 anos, a vida sendo ainda um mistério de fantasia. Esqueci, fui sendo atropelado pela realidade, trabalho em caixa de banco, dinheiro contado, nada - nem de viagem até a praia dos farofeiros. Até que um dia a Aurora veio até meu guichê. Alta, tranquila, vestido estampado mostrando cintura de pilão. Ela abriu um sorriso tão esplendoroso ao dizer que queria depositar dez reais na conta, que eu perdi o rebolado. Fiquei pasmo. Só então perguntei o nome e ela disse Aurora, não Orora, como na música. Era mais que boreal, era o próprio universo concentrado naqueles olhos, no tom da voz. Perguntei o sobrenome e veio um Silva como se fosse da mais nobre das famílias europeias. Gamei. Ela deu o número de telefone e nunca mais nos desgrudamos. Aurora. Não preciso ir atrás. Durmo com uma toda noite.
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