segunda-feira, 11 de julho de 2016

Delírio

Fiquei cego no orquidário. Depois de anos voltei a ver os mesmos monstros e bichos iguais àqueles dias em que estive amarrado na cama. Delírio. Urrava tão alto, com medo de ser devorado pelo medo, que os outros pacientes reclamaram com a direção do hospício. Décadas depois sem beber uma gota de álcool, aconteceu. Primeiro olhei com carinho uma orquídea branca que veio dos confins do mundo. Fechei os olhos naquela estufa para sentir o perfume inebriante e, quando olhei de novo aquele paraíso, lá estavam eles - e ceifando todas as plantas. Como num pesadelo acordado, fiquei imobilizado. Não podia gritar dessa vez. Não sabia o que fazer. Pensei então em todas as coisas bonitas que aquelas plantas poderiam proporcionar. Quantas declarações de amor e de amizade? Então tudo voltou ao normal - e só então vi quantos brotos estavam para nascer em todas elas. Era o futuro, como no presente e passado.

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