terça-feira, 26 de julho de 2016

No açougue

Um dia fizeram a pergunta tradicional: o que você quer ser quando crescer? O menino não pestanejou e respondeu na bucha: açougueiro. De onde tinha tirado aquilo, os pais nem imaginavam. Mas ele, sim, porque ficava encantado com tudo o que acontecia no açougue onde a mãe comprava o bife nosso de cada dia. Via alguns parrudos descarregando dos caminhões frigoríficos peças enormes nas costas, camisetas manchadas de sangue e o pedaço do bicho com uma pata só apontando para o céu. E quando o açougueiro cortava a peça de coxão mole com a destreza de um cirurgião... Ele entrava em êxtase acompanhando o fio da faca partindo a carne - e os bifes descansando uns sobre os outros antes da hora inesquecível de o profissional pegá-los com a mão para pesar e embrulhar. Ele relembrava tudo na hora de comer - e, claro, sempre pedia o seu pedaço de carne mal passado. Outra lembrança era a carne sendo moída e saindo dilacerada pelos orifícios da máquina trituradora. Assim cresceu. Bem que tentou transformar em realidade o sonho. Não deu. Trabalha numa floricultura. Cuida das orquídeas. As mais lindas da cidade.

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