quarta-feira, 6 de julho de 2016

Gelo

O retrato da minha alma aparece por inteiro nos dias de geada forte. Eu não sabia disso porque na minha terra não tem disso não. No dia em que a temperatura baixar dos dez graus, morre toda a população da região. Quando desembarquei no sul, que não é tão maravilha, fui morar em casa de madeira que parecia coisa de filme. Tinha um gramado enorme na frente e um pomar atrás. Diziam que o bairro era nobre. Mas quando o inverno chegou... Dentro da casa, marrom com detalhes em branco, fazia mais frio que fora. Acostumei. Foi ali que um dia me descobri no tanque. A água acumulada ficou com uma fina camada de gelo durante a madrugada. Coloquei o dedo e ele se desintegrou. Aquilo era - e é, meu retrato interior. Daí a preocupação em me proteger o máximo possível, com medo de que alguém aponte o dedo, mesmo sem cutucar qualquer ferida - e eu logo desapareça pelo buraco da insegurança. 

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