terça-feira, 12 de julho de 2016

Branca

Sempre esteve aqui ao lado, mas nunca pensei que ali estava a explicação que nunca consegui. Xangô com seus dois machados empunhados. Saravá! Bati forte no peito, como vi a mãe de santo fazer no terreiro, e com a ponta do dedo indicador alisei a lâmina. O corte, a dor, o pingo de sangue - mata, cachoeira e pedreira eu senti. Soube então porque desde sempre fui juntando todo tipo de arma branca: faca, punhal, navalha, foice, canivete, bisturi. Juntos numa gaveta pouco abaixo do meu santo, o silêncio metálico à espera de algo, talvez nada, talvez a justiça. Quando abri o local, a gota de sangue batizou a peixeira. Ela veio lá de cima, onde andava enfiada na cintura da calça bem no meio das costas de um homem sereno que nunca precisou furar o bucho de ninguém, mas que sempre estava atento. Olhei Xangô. Ao lado, uma imagem do mesmo tamanho de Nossa Senhora Aparecida parecia dar equilíbrio a tudo. Arma branca também é paz.

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