quarta-feira, 24 de agosto de 2016
Dois
No meu reino só cabem duas pessoas - e eu não me suporto. Brigo constantemente porque sempre acho que o outro falhou e ele me diz claramente que a cagadona é minha. Não tenho lembrança de quando descobri esse mala que me atormenta diariamente e muitas vezes nos meus sonhos. Às vezes entramos num acordo, mas logo há esfaqueamentos mútuos, cuspidas, chutes no saco, etc. Quem inventou isso foi um grande filho da puta - e não me importo se algum de vocês pensar em deus, qualquer que seja. Eu queria ser feliz, mas uma vida inteiramente assim com certeza seria um porre sem a mínima graça. Mas também não queria o tormento, o fio da navalha rondando a retina da alma, o sangue explodindo na cara, a morte sempre na espreita, os outros querendo entender. Caralho! Eu não entendo porque tenho essa outra pessoa aqui dentro - e não há como assassiná-lo. Talvez isso seja vida. Talvez isso seja resultado do vírus nosso dos infernos. Como vou saber? Entendo tiro de calibre doze no céu da boca. Deve ser por isso.
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