segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Editar é viver

Agarrei a testa com força, fechei os olhos, forcei o pensamento tentando criar algo novo, uma história, um delírio, a descrição de uma cena nunca vista, algo no futuro... Nada. No cinema mudo do quengo só fatos ocorridos durante a longa e estafante vida. Escrever sobre o passado é muito bom, porque dá para distorcer - e tudo é distorcido porque é assim mesmo. Também podemos editar do jeito do que a gente quer. Viver para contar, como disse o grande Gabo. Aquele teste para entrar na empresa gigante e começar a ganhar dinheiro escrevendo, mesmo sem nunca antes ter escrito nem bilhete com poema panaca para a namorada. Tempo de máquina de escrever, mas quem disse que a datilografia era dominada? O melhor foi a o teste de reportagem onde, numa mesa do restaurante da tal editora, entrevistamos, eu e outro colega que tentava o milagre, as estrelas de uma revista de informação semanal. Claro que não sabíamos quem eram e muito menos que o que iria analisar nossas invenções estava ali. Ele mesmo perguntou porque um dos atrevidos não anotava nada. Apontei o indicador para  têmpora direita e expliquei que guardava tudo ali. No dia seguinte, por ter ali se alimentado, o outro aprendiz foi parar no pronto-socorro com intoxicação ´- e não pode escrever seu texto na data prevista. Claro que era mais um molho para a reportagem, colocado bem no final do catatau escrito primeiro à mão e depois catando milho durante horas para deixar a coisa impressa na lauda. Os dois passaram na peneira e até hoje enganam por aí. Faz tempo... Ah, sim, veio uma ideia sobre o que poderia inventar como ficção futura: ao tentar limpar a máquina de escrever velha, ele prendeu o dedo de tal forma nas engrenagens, que morreu ali, pois morava sozinho e não dava para carregar o trambolho até a rua para pedir socorro.

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