quinta-feira, 11 de agosto de 2016
Surto
Me convenceram. Sou candidato. Não tenho um puto de tostão furado. Disseram que isso faz parte da estratégia. Para enganar os que estão em situação igual. Eles vão votar em mim, garantiram. Me convenceram porque acreditam que sou honesto. Caso raro. Precisam ter mais gente para que o partido a consiga o que quer. O que? Fazer o bem para o povo, me disseram. Mas quando ouvi isso, todos na minha frente estavam olhando para o chão. Teve gente que se virou. Acho que riam. Passaram uns dias e um jornalista veio me entrevistar. Foi a primeira vez na minha vida. Eu disse que não sabia o que faria caso fosse eleito. O mané deu uma risadinha, como se soubesse de tudo. Vi minha cara na tv durante a campanha. Uma vez só. Fui um dos mais votados. Eleito, foi aquela badalação dos donos do partido. Já falavam dos planos para mim, do que eu poderia ganhar falando em nome dos durangos. Renunciei antes de assumir o mandato. Ninguém entendeu. Expliquei - e não acreditaram. Quando aceitei o convite, estava em surto psicótico. Depois, passou.
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