quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Telefone
Que doce ingenuidade era dele! Achava que era só entrar numa loja e comprar um aparelho de telefone e, pronto, podia falar com o mundo. Nunca fez isso, mesmo porque tinha medo das modernidades e, pelo que lhe falavam, o telefone custava os olhos da cara. Nunca teve um automóvel, apesar de ter passado um período de bonança nos negócios. Como dirigir uma geringonça daquela? Era do tempo do lampião a gás. Mais que isso: de onde veio, quando a noite caía, a lamparina era quem iluminava. Por isso, nunca esquecia as noites de lua cheia no sítio, pois tudo ficava como se dia fosse. Foi embora antes que a revolução dos computadores tomasse conta do mundo. Sim, ainda pegou a expansão da rede telefônica e, lá para onde voltou, nos grotões do fim do mundo, instalaram um aparelho onde podia falar com os filhos que estavam a léguas de distância. Não era de muito papo, e sempre meio desconfiado, mesmo porque quase não gastou nada para ter o aparelho falador que era da cor cinza. Um dia recebeu um telefonema de um parente da Europa. Não acreditou que aquilo era possível. No que fez bem. O outro queria uma grana emprestada.
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