quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Flor amarela
Tinha uma flor amarela, simples, em cima de pedras de uma calçada. Ela saía da terra, onde estava acompanhada de grama, ervas daninhas, outras nem tanto, e parecia querer beijar o lado bruto, pétreo, brilhante ao sol do meio-dia. A sombra do caule e daquele minúsculo buquê a acompanhava. As pessoas passavam perto, algumas quase pisavam a flor - e ninguém prestava atenção naquilo, apesar de o amarelo parecer a cabeça de um cogumelo de bomba atômica visto de cima no deserto. Sentei perto e fiquei observando. Ver deus seria isso? Eu já vi, mas foi no galho de uma araucária centenária balançando num dia de céu cinza e vento forte. Silêncio. Deus é silencioso, luminoso e nunca fez uma oração para ser decorada. Um menino parou ao lado. Três anos? Se deitou e colocou o rosto perto da flor. Pensei que ia arrancá-la. Não. Ele primeiro a cheirou e depois a beijou. Aí, levantou e foi correndo feliz pela calçada. A mãe enxugou uma lágrima.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário