segunda-feira, 10 de março de 2014

A dos sensatos

Não queria mais a estranheza, o olhar pelo avesso, a dificuldade. Estava cansado porque tudo era muito pesado. Ao tomar água, por exemplo, ouvia o som de cacos de vidros sendo moídos e o grito interno dos órgãos sendo cortados. Ele sabia que não acontecia, mas sabia tanbém que acontecia - porque sentia. Uma benção com água benta aspergida lhe queimava a pele como chuva ácida. Ele pedia paz e o Cristo lhe dava uma piscadela sacana. Até o dia em que viu o filme do diretor doidão que resolveu fazer a coisa mais simples e linear possível, ou seja, a loucura em sua forma plena. Aquele pequeno trator cortador de grama o arrastou para uma realidade plena e plana, como um extenso campo de golfe. Ele caminhou assim por muito tempo até o dia em que ouviu uma voz saindo de um dos buracos. Resolveu olhar e então foi tragado para dentro da embarcação imóvel dos sensatos.

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