quarta-feira, 12 de março de 2014

Pedras

Pintava pedras. Era escolhido por elas, dizia, sempre que andava pelas ruas do bairro. Tinha uma teoria para isso: contava que elas eram muito desprezadas e que o máximo de atenção que recebiam era um bico de algum moleque ou adulto nervoso. Levava as pedras para casa, dava um banho no tanque, deixava secar e depois pintava em várias cores. Guardava. Quando achava que alguém merecia, presenteava e pedia para guardá-la com carinho por toda vida. Numa festa do final de ano da empresa em que trabalhava, levou algumas delas para dar a seus colegas. Porque gostava muito deles e do ambiente formado. Fez discurso, apesar da timidez. Todo mundo gostou. Anos depois, encontrou por acaso um daqueles ex-companheiros. Lembrava até qual pedra tinha dado a ele.Perguntou por ela. O outro fez cara de espanto e disse que tinha jogado na cabeça do Paolo Rossi quando o Brasil perdeu para a Itália no estádio Sarriá na Copa de 82.

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