terça-feira, 11 de março de 2014
TV verdade
A primeira televisão ele nunca esqueceu. Era um caixotão quase do tamanho de uma cômoda, importada, usada durante muito tempo por alguma família de bacanas e que foi parar naquela sala da casinha nos fundos do quintal como uma maravilha do mundo. A imagem era de uma tela enfraquecida pelo uso, mas para o menino de oito anos a magia era até maior do que os vôos de Peter Pan e Sininho no álbum colorido que uma freguesa da mãe costureira lhe deu. Até o dia em que, sozinho na sala, viu primeiro uma fumacinha sair da parte de trás do aparelho, a imagem desaparecer em seguida e o fogo tomar conta. Saiu gritando desesperado pelo quintal e os vizinhos socorreram. A TV foi levada para fora da casa. Alguém queria jogar água. Disseram que, assim, iria explodir o tubo. Usaram então areia de uma obra vizinha. O menino chorou como nunca. Achava que o pai, quando chegasse do trabalho, iria brigar, pensar que ele era o culpado. O velho chegou e acalmou o filho. Prometeu que logo compraria outra televisão. Foi o que fez tempos depois. Essa, menor, mas também usada, tinha a vantagem de ser colorida. Um plástico com faixas em várias cores estava fixado na frente da tela. Era o progresso chegando à vila.
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