terça-feira, 18 de março de 2014

Para matar

Alguém um dia falou que levar um tiro é como se fosse um soco. Isso no primeiro momento e, claro, dependendo de onde a bala entra. Ser for na cabeça ou direto no coração, não dá para pensar se é soco ou sopro. Já era. Apaga para sempre e não vai encontrar São Pedro na porta de entrada como nas piadas. Ele pensava nisso enquanto limpava a Walter P38 que herdou de um soldado que lutou na Segunda Guerra Mundial. Nove milímetros, perfeita no seu encaixe, coisa de alemão. Colocou o pente cheio de balas e saiu na noite querendo uma encrenca para ver se a na prática a teoria é essa mesmo - ou outra. Lembrou do personagem de Feliz Ano Velho tentando pregar alguém na parede com tiro de calibre 12. Não era o caso. Um bêbado esbarrou no carro. Ele saiu de arma em punho fazendo mira num ponto abaixo da clavícula direita da vítima. O dedo no gatilho parecia pegar fogo, a respiração se alterou, mas ele não atirou. Aquele rosto ele conhecia, mas não sabia de onde. Talvez do seu tempo de bebedeiras monumentais. Talvez do seu tempo de morador de rua, largado da vida. Guardou o canhão, deu uma nota de cem para o amigo, foi para casa. Ligou a tv. Charles Bronson atirava. Desligou. Sonhou com um campo de girassóis.

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