segunda-feira, 17 de março de 2014

Uma camisa vermelha, 45 anos depois

Abriram um álbum antigo, pesado, daqueles em que as fotos ficam presas por cantoneiras. Era festa de turma, turma que se reuniu há quarenta e cinco anos num colégio público. Ele estava lá numa das imagens que aquela senhora guardara com devoção durante todo tempo. No colorido desbotado, ele ainda tinha cabelo no alto da cabeça, repartido ao meio e de onde saíam pequenas ondas para os lados. A camisa era vermelha e a calça de tergal marrom, onde se destacava o passador largo. Magro. Tinha uns quarenta quilos a menos. Olhou e enxergou o filho, hoje com 35 anos. Na retrato era adolescente de 15 anos - e não sabia o que fazer da vida. Hoje continua sem saber, mas se conformou com o que a vida lhe deu na procura. Seus amigos estavam todos naquele salão de festas de prédio classe média. Um bandeja com espetinhos vários circulava e um enorme bolo de chocolate esperava a hora do parabéns nesta data querida de 60 anos de um dos amigos. Descobriu que todos eram os mesmos de quase meio século atrás. Guris que se divertiam e ainda se divertem na gozação mútua. Um deles brincou a sério dizendo que o bom mesmo era que estavam todos vivos - e que não vai ser legal quando os encontros começarem a ser realizados em velórios. Será? Ele olhou de novo a foto e pensou neste desfecho natural. E ficou feliz porque até aquele momento todos tinham cumprido a trajetória normalmente, ou seja, acima da média - e sem saber ou pensar muito no por quê.

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