quarta-feira, 19 de março de 2014

Cavalo na chuva

Uma hora e meia depois daquele sacrifício de pesos, esteira, etc, ele saiu trôpego da academia sonhando com o banho quente para curtir o melhor momento dessas coisas: o depois. Foi aí que viu o asfalto molhado e a chuva forte caindo do céu escuro. Reflexos das luzes dos carros bailavam na língua escura da rua e só então se deu conta que nunca tinha pilotado assim. Olhou a moto azul e lembrou do cavalo de aço de um tempo qualquer. As drogas naturais do corpo circulavam no cérebro como se bailassem numa sinfonia que só dava prazer. Ele montou, apertou o botão de partida, primeira engatada e entrou na experiência inédita. De calção, camiseta, um tênis velho de cadarço esgarçado e capacete com viseira aberta. Os pingos pareciam setas endereçadas do nada a entrar na alma com a suavidade dos deuses. Frias, sim, mas quentes o suficiente para fazer o coração descompassar. Ele então soltou um grito tão forte que logo um relâmpago cortou o céu no horizonte e o trovão veio depois para responder que, sim, era isso mesmo.

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