segunda-feira, 24 de março de 2014
Patinete Rosebud
Quando viu o trenó do Cidadão Kane ele entendeu tudo. Rosebud para ele não tinha nada a ver com genitália da amante do poderoso Hearst. Era o patinete que construiu no tempo em que morava no quarto e cozinha da rua de terra que era o caminho para a longa descida de asfalto. Pirambeira. Lembrou do nome que todos os meninos da rua davam para aquela ladeira. Só então se deu conta da quantidade de crianças que havia naquele canto pobre da cidade grande. Todos eram criativos para as brincadeiras. Que, sim, tinham sua temporada marcada no calendário. A dos patinetes ele não recordava quando era, mas fazer o veículo exigia talento e uma boa dose de sorte para achar a madeira - aquela que ladeia qualquer cama normal. Uma sola de sapato velho fazia a junção entre as duas partes - e rolimãs azeitadas eram as rodas. A velocidade da máquina era incrível e a descidona interminável. Duro era subir tudo de volta para chegar de novo ao topo... e descer. Não faltava energia. Rosebud. Ninguém dava nome aos patinetes, mas eles acompanharam para sempre todos aqueles meninos que se dispersaram por aí.
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