quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Luz no túnel

Ouviu o apito do trem e junto veio uma mensagem. Claro que ele criou isso, mas era assim que sempre acontecia. Cismou de embarcar clandestinamente num cargueiro para descer a Serra do Mar durante a madruga sem lua. Subiu no vagão carregado de soja. Escolheu Piraquara para iniciar a aventura, porque já fora da grande cidade. Deitou e foi sacolejando escuridão adentro. Não teve medo. Teve horror. Entrou na Mata Atlântica e todos os bichos surgiram na sua mente. Da tarântula ao tigre albino que ali não existe. Num dos viadutos conseguiu ver o abismo. De repente o trem parou. Ouviu passos. Foi descoberto. Não imaginou como. Desceu antes de receber a ordem. O trem andou. Caminhou então sobre os dormentes. Entrou num túnel. Ficou ali sentado, com as costas numa das paredes. Era uma proteção. Adormeceu. O sol despontou lá longe na linha do mar. Acordou. Viu a luz no fim do túnel. A mente criou novamente. Era o seu reflexo. Começou a andar sobre um dos trilhos como o maior equilibrista que já existiu.

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