terça-feira, 2 de setembro de 2014
Na tempestade
No escuro tudo ficou claro. A tempestade chegou, ele estava sozinho na casa de madeira na beira do lago. O vizinho mais próximo ficava a quilômetros de distância. Ele começou a pensar neste tipo de isolamento ao acompanhar os fragmentos da vida de seu autor predileto. Era, sim, uma opção para se livrar do incômodo da convivência. Bastava a dele com ele mesmo, dificílima. Conseguiu o que queria por acaso. Na verdade a choupana era de um amigo que não achava ninguém com tutano suficiente para ficar naquele fim do mundo tomando conta do lugar, cercado de mata virgem. Sim, havia o lago lindo e silencioso na frente. Enfim, era o que queria. Não levou livros, nem apetrechos para escrever. Conversava consigo mesmo, nadava, comia o suficiente, andava por trilhas, descobria pássaros, bichos... Até o dia da tempestade. Um raio cortou o céu. Uma árvore caiu. Ele se olhou no num pequeno espelho. Era a primeira vez depois de meses. Ou seriam anos? Não se reconheceu. O que refletia achou que era hora de voltar para a cidade. Ele abriu a porta e saiu e desapareceu na chuva.
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