terça-feira, 23 de setembro de 2014
Puta da Visconde
Por que fizeram isso com a gente? Tivemos nossos dias de glória como atrações nos mais ricos puteiros da cidade. Os tubarões, os donos dos Três Poderes, todos entravam ali sorrindo e saíam flutuando para continuar a vidinha chata ao lado das esposas. Tudo passa, nada ficará, como cantava o Nelson Ned. Sim, fomos decaindo, chegamos à Rua Riachuelo e, depois, aqui, na Visconde de Guarapuava, onde havia um hotel/casa que nos abrigava durante o expediente e depois. Velhas, gordas, pegávamos qualquer um que pudesse pagar uma miséria pelo programa que nos rendia a refeição do dia. Derrubaram nossa casa. Estamos na rua, literalmente. Mamãe dizia que ser puta só rende quando um bacana se apaixona e casa. A maioria, contudo, termina como nós. Não há retiro para putas. Agora temos que dormir em abrigos, mas não dá para levar para lá nossos clientes, cada vez mais raros, cada vez mais pobres. Pelo menos se alguém me pagasse uma passagem de ônibus para Quixeramobim... Lá tenho um parente. E ninguém vai ler meu passado nas rugas do meu rosto, nas minhas varizes e no meu corpo deformado.
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