terça-feira, 30 de setembro de 2014

O tempo

De Nilson Monteiro


O tempo
enfiou-me o cansaço
das bíblias e dos ídolos
sob as retinas.
Cristalizou-me a esperança
e volatizou-me o medo
costurando o amor
e o ódio
no rebanho de luas.
O tempo
deu-me filhos
amigos, inimgos,
pessoas que rondaram meu coração
como lobos
como cordeiros
ou ainda como
companheiros
O tempo negou-me paz e pressa
rabiscou-me rugas e cicatrizes
soprou-me alegrias e tristezas
dependurou-me sobre a vida
O tempo enxergou-me
espiando pelas lascas das teorias
e metendo o dedo em feridas
encharcadas nos bairros
O tempo
deu-me cabelos brancos
e paciência.
Deu-me
a certeza da dúvida
como motor do mundo.

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