segunda-feira, 25 de maio de 2015
Uma lagosta para Bukowski
Ninguém sabe como aquela lagosta apareceu. Os três tinham bebido muito na noite anterior. Fizeram a famosa via sacra por vários bares da cidade - que terminou no boteco onde o trio sempre entrava torto e pedindo para o conjunto musical tocar Summertime. Quando acordaram na casa de um deles, mais amarrotados do que pobre no trem da Central do Brasil, viram o embrulho em cima da mesa. Dentro do jornal que anunciava mais um crime bárbaro na cidade, o bicho, inteiro, pálido, se é que lagosta fica assim - mas aquela estava sem cor, pálida. Se entreolharam e um deles disse que sabia preparar. Às onze da manhã de um dia normal da semana, derrubaram algumas doses de cachaça, para rebater, e o crustáceo foi para a panela cercado de batatas e cebolas boiando em água com muito sal. Cervejas foram compradas, um litro de conhaque de alcatrão de São João da Barra também. Tomaram tudo. A água secou, o bicho e os ingredientes torraram um pouco menos que o trio. Quase houve um incêndio na casa de madeira. Eles acordaram antes da tragédia e resolveram comer do jeito que estava. Um quase morreu engasgado. Dormiram de novo. No dia seguinte queriam ir a um restaurante para saber que gosto tem uma lagosta. Não foram por falta de numerário. Aquele era um tempo em que reverenciavam Henry Chinaski, famoso personagem e alter-ego de Charles Bukowski.
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