terça-feira, 26 de maio de 2015

Um lugar escuro

Tinha um lugar escuro. E todas as crianças da turma da rua eram atraídos por ele. Ficava numa casa de fundos, meia-água, sem iluminação, insalubre. Nenhuma família parava ali. Teve os baianos, com cachorro e tudo. Teve os japoneses cujo patriarca tomava banho no ofurô no quintal. A casa, contudo, normalmente  ficava vazia - e, por algum motivo, com a porta principal aberta. Todos morriam de medo, mas se sempre se juntavam e entravam, devagar, para verificar. Nunca havia nada, nenhum móvel deixado, apenas o piso de cimento cinza congelando a alma medrosa e quase nada de luz natural. O máximo era entrar até onde era o quarto, depois de subir três lances de degraus. O grupo sempre ficava pouco ali dentro e, invariavelmente, alguém gritava ter visto um fantasma. Então saíam na correria para a rua, para os terrenos baldios, para o mato que parecia floresta - e a vida se transformava numa brincadeira iluminada. Mas era preciso entrar naquela casa, porque ali era era lugar escuro. 

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