segunda-feira, 4 de maio de 2015
Visita
Foi juntando todos os cartões de visitas que recebeu na vida. Nunca precisou olhar algum, mas, sem saber o motivo, colocava-os dentro de uma gaveta. Quando se deu conta, anos depois de lançar ali o primeiro, de uma gráfica cujos números de telefone tinham cinco algarismos a menos do que os atuais, o local estava abarrotado. Um dia resolveu fazer uma limpa, mas olhando um por um. Tentava resgatar na memória quem era a pessoa que lhe dera aquele pedacinho de papel retangular com nome, endereço, telefone, etc. Claro que não recordava, mesmo porque, para as mínimas coisas recentes, os neurônios já estavam falhando. Demorou uma semana fazendo isso, mas um dia um dos cartões o fez parar - e os olhos brilharem. Lembrou! Era o de uma casa de tecidos numa rua antiga de uma cidade grande. Havia um vitral ali dentro que o encantou. Era muito grande, ficava nos fundos da loja e, ao lado dele, uma escada estava grudada na parede. O vendedor disse que era exatamente para quem, como ele, se maravilhava. E o convidou para subir e olhar através daquela obra de arte. Foi o que fez até chegar a um ponto onde podia olhar através de uma flor que a mão de uma mulher segurava. Foi então que viu uma santa que encimava a cúpula de uma igreja que ficava ali atrás, mas ele nunca tinha reparado. A imagem olhava exatamente para aquele ponto do vitral. Ele fez o sinal da cruz e, anos depois, guardou apenas aquele cartão para sempre.
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