quinta-feira, 28 de maio de 2015
Solta o gás!
Não tinha nada de "Invasões Bárbaras", aquele filmaço. Aos 67 anos ele estava cansado da vida e, ao contrário do professor, nada de doença terminal. Viver era um saco para ele. Não via mais sentido em nada, mesmo porque tinha sido um inútil durante toda a existência, apesar de cumprir o script de estudar, se formar, ganhar dinheiro, casar, ter filhos, etc. Queria a eutanásia, mesmo estando com a saúde em dia, conforme os exames que fazia de seis em seis meses. Suicídio? Nem pensar. Não tinha coragem. Chamou os filhos, todos adultos, formados, casados, etc. A mulher deixou de fora, porque pensaria que ele tinha pirado e pediria o internamento imediato. Revelou o caso para os herdeiros, arrematou mostrando o testamento e a divisão da fortuna - imaginando que isso iria incentiva-los. O mais inteligente não só concordou como fez graça, dizendo que, longe dele, todos se reuniam para assistir "Parente é Serpente" e estudavam uma forma de mandá-lo para a caixa prego. Ele riu muito e perguntou, então, qual seria o melhor método. Estava descartada a hipótese da dose cavalar de morfina, mesmo porque ele odiava ser espetado. Alguém sugeriu gás. Ele gostou e lembrou da piada do português que foi condenado à morte e, ao entrar na câmara, notou que havia uma abertura lá em cima, a muitos metros de altura. Ficou sossegado porque o gás sairia por lá e, amarrado a uma cadeira, ouviu alguém gritar "solta o gás"; olhar para cima, então, viu dois gajos largando um botijão em sua direção. Todos caíram numa gargalhada sem fim. Quando a coisa passou, com lágrimas nos olhos, o velho disse para que esquecessem tudo - queria continuar vivendo.
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