quarta-feira, 20 de maio de 2015

Pinóquio no psiquiatra

A sala de espera era toda escura. Uma mesinha de certo era branca, com um rinoceronte cor de rosa bem no meio. Ele sentou numa poltrona que imitava um ovo aberto, sentou e esperou, esperou. O psiquiatra demorou para abrir a porta do consultório. Antes o paciente foi até uma das cortinas, abriu e olhou para a noite, as luzes, e para baixo. Então encostou a cabeça no metal da janela. Gelou. Quis tirar a testa dali, mas não conseguiu. Ficou grudado com os olhos fixos na luz de um poste que ressaltava as pedras em preto e branco da calçada em frente a um prédio. Um carro parou, uma mulher desceu. Estava vestida de preto e usava chapéu. Elegante. Ela então se virou repentinamente e olhou para cima, para ele e sua testa grudada na janela. Ela sorriu e dali ele jura ter visto o rosto de Marlene Dietrich no filme O Expresso de Xangai. Houve acenos de ambas as partes. O psiquiatra abriu a porta e o chamou. Ele desgrudou e entrou. No consultório olhou, como sempre, a figura de um pinóquio que ali havia. Depois, sentou e começou a falar. Não sabia se estava contando verdade ou mentira. Por isso estava ali.

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