quarta-feira, 6 de maio de 2015
Trinca, trincando e desbundando
Chegou no manicômio algemado, só de cueca e no camburão da polícia. Os olhos injetados, babava pelos dois lados da boca. Não conseguia falar, dentes rangendo. Levaram-no para a unidade de desintoxicação, aplicaram sedativos, deitaram-no na cama, amarraram seus braços e pernas. Uma enfermeira grávida perguntou, depois de um tempo, se ele estava se sentindo melhor. Ele olhou e disse: "Trinca, trincando e desbundando". Ela estava acostumada àquilo. Só não gostava muito quando chegavam os alcoólatras que entravam em estado de delirium tremens - porque os bichos que viam os faziam urrar de pavor e ela achava que isso o seu bebê poderia ouvir e não gostar. Uma semana depois o trinca, trincando e desbundando já estava sóbrio e conversando com os outros pacientes internados. Contaram como chegou e o que falou. Ele tentava lembrar de todo jeito como aconteceu tudo aquilo, mesmo porque até a véspera do ocorrido nunca tinha colocado nenhum tipo de droga na corrente sanguínea. Era um careta radical. Então lhe veio a imagem da festa onde estava tomando água mineral e foi até a cozinha procurar algo para comer. Não achou e abriu a porta de um armário. Lá havia uma bandeja de prata e com um monte de pó branco em cima. Achou que era de comer. Pegou uma colherinha, encheu-a, colocou na boca e engoliu.
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