terça-feira, 20 de outubro de 2015

Armas

A gorda encostou as carnes e perguntou que negócio duro era aquele. Eu disse que era uma arma. Ela achou engraçado. Eu disse que era verdade e levantei a camisa. O cabo do 32 apareceu. Ela fez os dentes desaparecerem imediatamente sob os lábios pintados de vermelho cheguei. Estávamos encostados no balcão de uma padaria de bairro. Ela queria comer um doce. Eu queria fugir dali porque era muito tímido. Sabia que ela era puta, muito simpática, mas puta falada. Ela queria me levar e eu não saberia o que fazer. Era o nó que travava tudo. Paguei o doce e fui embora. O revólver era dessas loucuras que jovens fazem quando têm dão chance. Aquele era um Rossi. Do meu pai. Ele me emprestou porque eu tinha andado mais de ano fardado e, achava o velho, seu filho podia andar com o berro que guardava com carinho em cima do guarda-roupa do quarto. Se algum ladrão entrasse naquela padaria, adeus doce, adeus puta, adeus vida. Eu não saberia o que fazer, apesar de ter a sensação de segurança. Nunca mais quis saber da arma. Nunca mais vi a puta. A padaria continua no mesmo lugar depois de anos. Ninguém encosta mais carnes em mim. Nem gordas, nem magras. Sou um velho. Estou num asilo. Conto histórias que os outros não ouvem, mas riem. 

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