quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Sentinela

São três da madrugada. O calor é infernal. O ar tão pesado que daria para cortar com a faca que tenho aqui na cintura. Minha arma principal, porém, é outra. Tenho um fuzil automático que pode cortar o corpo de uma pessoa com uma rajada. Nunca atirei em ninguém. Nem sei porque me deu a louca de vir para essa fronteira. Estou cercado de florestas. Minha guarita é minúscula. Não vejo nada, apenas ouço. Os bichos, os fantasmas, o som do tropel das amazonas que saem em busca de carne humana. Minha farda pesa duzentos quilos. Não posso dormir. Espero um inimigo que nunca apareceu. Defendo minha pátria. Lá embaixo do barranco tem um rio. Ele tem águas barrentas e muito, muito peixe. Às vezes tenho pesadelo acordado quando estou de sentinela no meu turno da madrugada. A água sobe e inunda todo o quartel. Um jacaré enorme entra na guarita e minha cabeça fica presa dentro da boca dele. São três da madrugada. Uma estrela cadente risca o céu lá para os lados de não sei onde. Alguém deve ter visto a mesma coisa neste mundão escuro.

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