terça-feira, 27 de outubro de 2015
No banco da sogra
No banco da sogra viajei num Karman Ghia. Eu não era nem sogra, nem sogro do dono do carro. Apenas uma criança que, encantada com aquele carrinho vermelho, foi do Rio de Janeiro e a Vassouras. O motorista era um desconhecido, mas a namorada dele morava com uma tia querida que me dava o colo que nunca tive em casa. Nunca mais esqueci o possante e a praça antiga da cidadezinha. Anos depois, num dia de sol em que fui à janela do prédio público para olhar as árvores, tive uma visão - e alucinei. No pátio coalhado de carros novos, mas em cores sóbrias, estava lá o esportivo tão vermelho quanto aquele onde sonhei acordado nas retas e curvas de uma estrada sem trânsito. Desci correndo e, ao segurança, perguntei sobre o dono. Fui lá falar com ele. O carro era do pai e estava guardado há tanto tempo que os pneus ressecaram. Foi a única reposição que fez depois de tirar da cabeça do velho a ideia de vender a joia. No final de semana seguinte acabei com minha inveja boa que senti. Fui à feira e comprei vários, cada um com uma cor diferente. Entraram na coleção de um sonho de verão.
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