segunda-feira, 19 de outubro de 2015
No mar
É como jogar bilhetes ao mar e não esperar nada. Dentro do navio à deriva. Há uma chance de a coisa ser lida se você colocá-la dentro de uma das garrafas que, há muito tempo, estavam cheias de um líquido que rasgava a garganta. Mas ela tem de ser engolida pela versão moderna da Moby Dick - e algum Mestre Jonas entre dentro dela para ler. Como as garrafas não existem mais e você fica naquela interminável sucessão de anoitecer, amanhecer, sozinho no seu barco, porque sempre foi assim, vá se conformando no fato de ainda ter alguma ideia e, melhor, papel e caneta. Quando isso terminar, terminou. O tigre dentro do barco naquele filme chato foi uma boa ideia de imagem, mas tem que puxar muito pela imaginação para fazer a a analogia ou algo parecido. Um dia vi um no convés, mas foi na fase do delirium tremens por causa da abstinência forçada. Depois descobri que era apenas um quadro chinês na parede e, outra vez filme, lembrei de Derzu Uzala e seu medo com o espírito que encarnava o animal. Alguma coisa bateu no casco. Vou ver. Voltei. A guarda-costeira de algum país. Vão me levar. Perguntei se na prisão poderia escrever. Disseram que sim.
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