quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Dois amigos

Afogados. Perdi dois amigos assim. Nas férias escolares. Não voltaram para a classe. Recebemos os avisos como se fossem bilhetes frios e mal escritos. Afogados. Evitamos falar a respeito, mas a morte trágica fica dentro, como uma sensação ruim. Mil afogados tem a letra de uma música. A conversa no terreiro com os santos que descem para tentar proteger o menino do tiro de misericórdia. Os afogados falam com a gente. Um dos meus quase enlouqueceu uma colega. Fomos à igreja que ficava perto de onde ele morava. Mandamos rezar missa. Ele queria ficar em paz. Ficou. Ela também. Afogados. Tenho esses. Não tenho queimados. Outro tipo de grito que fica no ar. É o desespero da hora sem saída. É a entrega da alma diante da impotência diante da morte. Ficam os recados. Da fragilidade humana. Do pode acontecer. Do aconteceu. Meus amigos. Para sempre.

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