terça-feira, 11 de junho de 2013
Fogo alaranjado
Nunca realizaram o grande projeto. Eram três. Bebiam juntos todo dia, mas só depois do expediente. Um dia encontraram "o" bar. Antigo, provavelmente passagem para o infinito de muitos bebuns. Tinha um balcão enorme e a prateleira atrás dele era maior ainda. Ia até o teto e abrigava garrafas empoeiradas de tudo quanto é tipo de bebida. Menos água e leite. Foi numa noite que, lá pelas tantas, os três olharam ao mesmo tempo aquela quantidade imensa de garrafas que pareciam intocadas durante muito, mas muitos anos, e decidiram que, a partir daquele momento, se preparariam para derrubar todas, literalmente todas aquelas garrafas. Sim, era um projeto para muito tempo, mas, uma, duas de cada vez, eles achavam que conseguiriam. Dois dias depois, voltaram. Ninguém sabe que tipo de preparação fizeram. Talvez passaram as 48 horas sem colocar uma gota para dentro da caveira. Escolheram a mais empoeirada e colorida das garrafas. Mandaram descer. Era uma imitação barata de Fogo Paulista, só que na cor alaranjada e com um nome poético: Fogo Totus. Pediram três copos americanos. Colocaram dentro aquele líquido grosso, como um xarope antigo. Viraram a coisa. A garrafa voltou para a prateleira. Os três foram levados para um pronto-socorro. Coma alcoólico. O projeto foi adiado para sempre. Mesmo porque um morreu de falência múltipla, outro ficou entrevado numa cama e o terceiro continua respirando, o que é um grande milagre.
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