quarta-feira, 19 de junho de 2013
Jóias no jardim
Era uma cerca que estava ali desde antes. Dividia quintais e as casas onde moravam várias famílias. Não eram cortiços porque não os chamávamos assim. Lares também não. Essas palavras não faziam parte do dicionário da vila. Embaixo das camas havia penicos. Ninguém tinha coragem de sair para os banheiros minúsculos no meio do tempo. Quarto e cozinha. Casais com vários filhos. Amontoados, mas felizes. Promiscuidade também não fazia parte do vocabulário conhecido. Inocência também não, mas existia. Tinha um portão na cerca, porque éramos amigos. Lá na frente, perto da rua de terra, as ripas carcomidas pelo tempo separavam dois jardins que, para nós, eram muito mais lindos dos que apareciam nos filmes de castelos. As flores explodiam como bombas perfumadas no nosso lado. No outro, o encantamento era o de um arbusto onde pequenas pétalas amarelas ficavam penduradas como joias. Eram preciosas - e perpetuaram-se na memória de uma criança eterna.
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