sábado, 8 de junho de 2013
Uma porta dentro da noite
Uma porta aberta na noite. Todo dia eu passava e aquele retângulo de luz amarela me atraía. O ônibus sacudia na ladeira onde ficava a casa, barraco, cujos contornos não apareciam, ou eu não queria ver. Naquele ponto da subida o motorista engatava uma reduzida e o solavanco parecia me acordar daquela rotina de ir para aula, diariamente, prancheta na mão (era moda), avental branco amassado (era obrigatório no ensino público), nada na cabeça. A porta nunca estava fechada. A parede atravessada por aquela porta se ligava à calçada daquela pirambeira por uma escada de cimento toda torta. Não havia muro. Aquilo parecia um convite para que eu ali entrasse a e descobrir quem lá morava. Porque nunca via uma alma ali dentro. De vez em quando um cachorro estava no batente. Ele me olhava sempre. Ou eu já estava pirando depois de tanto tempo de obsessão. Era o trajeto só de ida do tal ônibus. A volta era por outro caminho. Nunca tive vontade, ou melhor, sempre tive medo de passar ali numa outra hora, puxar aquele fio da campainha para parar, descer e entrar naquele mundo. Acho que não fiz para não a fantasia não desaparecer. Daquela porta dentro da noite.
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