sexta-feira, 28 de junho de 2013

Órfão

Embriagado sem álcool desço a rua e a guitarra vai comandando meus passos, meus olhares, a batida do coração, a velocidade do sangue nas veias. Enxergo auras, cruzo com santos, demônios, sinto o perfume dos lírios, o fedor dos esgotos. De repente é um avião que passa rasante e a bomba explode. Tiros saem dos bacamartes dos bandeirantes e das metralhadoras dos helicópteros do Apocalipse Now. Pedaços de um hino. Estou no Brasil. A música é do Império. Fuligem. Napalm. Carne humana queimada. Urubu. Carcará. E eu continuo nesta rua que pode ser qualquer uma de qualquer cidade grande do país. Então, os acordes se transformam. São suaves como o bater das asas dos anjos. Um silêncio toma conta do mundo. Um rosto negro com bandana na testa aparece. Ele parece chorar porque está se despedindo. E deixa a mensagem que gostaria de embalar o resto da existência dos seres humanos. Jimi Hendrix.

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